Oi gente, hoje vim aqui contar um pouco como foi a minha experiência no estágio do CsF. O estágio foi completamente diferente pra cada uma das pessoas que é daqui da minha cidade (St. Catharines), então vou focar mais na minha experiência e contar um pouquinho sobre como foi.
Sobre o período do estágio (que é pesquisa pra algumas pessoas, mas é a mesma coisa), o meu estágio aconteceu entre maio-agosto. Isso porque esse é o período de “férias” de verão do pessoal da Brock. Pelo que eu captei até o momento todos os alunos da Brock farão estágio nesse período, então a ordem das coisas difere um pouco de acordo com a data que se chega. Eu cheguei em janeiro de 2013 e fui primeiramente para o inglês. Depois de quatro meses de inglês eu fiz o estágio e agora vou fazer dois semestres de aula, terminando meu intercâmbio em abril de 2014. Pra quem veio em janeiro mas não fez inglês a ordem foi: aula-estágio-aula de novo, terminando o intercâmbio em dezembro. Quem chegou em setembro do ano passado (todos fizeram inglês) a ordem foi: inglês-aula-estágio-aula. Cada uma dessas atividades tem duração de 4 meses, resultando em 12 ou 16 meses de intercâmbio pra cada. O que varia um pouco é o caso daqueles que não conseguiram fazer estágio entre maio-agosto, por não terem achado estágio ou por algum outro motivo. Essas pessoas então tiveram aula durante esse período e estão fazendo o estágio agora (ficou tudo meio confuso, se precisar eu explico de outra maneira hahaha)
Não sei se todos sabem mas eu sou acadêmica de Medicina, estou indo pro oitavo semestre no Brasil. Queria um estágio que tivesse a ver com a minha área, o que é um pouco complicado em uma cidade pequena como St. Catharines. A pessoa responsável por nos ajudar na procura dos estágios na Brock estava meio sobrecarregada e notamos que ia ser meio difícil conseguirmos alguma coisa decente só com ela procurando. Logo que eu cheguei em janeiro eu perguntei pra ela se era pra eu tentar conseguir achar alguma coisa, mas aí ela falou que não, que ela faria isso. Recusei algumas propostas absurdas de estágio, tipo umas coisas nada a ver com Medicina. No fim faltava pouco tempo para o estágio e eu estava começando a ficar tensa porque não queria trabalhar em laboratório. Resolvi falar com ela de novo (sim, no meio tempo eu falei umas 1000x com ela também), e ela falou que eu tinha toda a liberdade pra ir procurar um estágio por mim mesma ¬¬’ . Ok, fui atrás do estágio. Ela também tinha tentado contato com o hospital grande aqui da cidade, o General Hospital, que é responsável pelo atendimento de emergência de toda a região de Niagara e foi inaugurado esse ano, lá por maio. O problema é que ele é meio que “fechado” para os alunos de Medicina da McMaster, e disseram que eu tinha quase nada de chance de conseguir estagiar lá (imaginem minha tristeza nesse momento). Fui então no Shaver Hospital (que na verdade se chama Hotel Dieu Shaver Health and Rehabilitation Centre) e perguntei se havia alguma possibilidade de estagiar lá. Me passaram o e-mail e telefone da pessoa que cuida desses estágios e eu passei pra responsável da Brock. Fiquei de dedos cruzados esperando ela mexer os pauzinhos dela e fazer acontecer haha. Ela pediu pra eu escrever uma cartinha explicando minha situação, meu background em hospital e pediu pra eu mandar meu currículo da UFRGS. Depois de algum tempo ela me contatou dizendo que eles queriam uma entrevista comigo e eu fiquei super animada. Chegando lá eu vi que não era entrevista coisa nenhuma, eles iam me aceitar de qualquer jeito e só queriam conversar comigo mesmo hahaha (fiquei nervosa a toa). Acertamos todos os detalhes e eu fiquei de começar em maio. Detalhe muito importante que não sei se todas as pessoas sabem: o estágio é voluntário, não recebi um centavo pra fazer isso. Algumas pessoas que trabalham em empresas até recebem salário, mas essa é a exceção (a maioria dos bolsistas do CsF trabalha de graça).
Em maio comecei meu estágio. Recebi meu crachá pra entrar no hospital as regras gerais (não podia usar calça jeans pra tristeza da minha conta bancária) foram passadas. No primeiro dia conheci meus tutores: a Janice e o John Luce. Ela é enfermeira formada e ele é o médico chefe do hospital, e eu iria trabalhar diretamente com eles, mas mais com ela. Eles me explicaram que o Shaver não era considerado um “Hospital” porque ele não tinha emergência. Todos os pacientes que estavam ali primeiro passaram por um hospital da região e depois foram transferidos pra lá para reabilitação (confesso que não tava muito por dentro desse assunto, estou meio desacostumada com o HCPA que tem meio que de tudo lá). Eles me mostraram a estrutura do lugar e eu fiquei de queixo caído. A ala hospitalar em si tem dois andares só, e os quartos tem 1,2,3 ou 4 pacientes, mas tem bastante espaço pra cada um deles (no HCPA as macas são mais coladinhas) e tem toda a estrutura que os quartos de hospital têm (maca, enfermeiros 24h, horário pra medicação, comida e essas coisas). O primeiro andar é com os pacientes de reabilitação ativa (que vão pra fisioterapia todos os dias) e os do segundo andar são os paliativos (estão lá com o objetivo de melhorar a qualidade de vida). Os paliativos são os pacientes que são mais graves e que a equipe sabe que não vão apresentar mudanças drásticas no status de locomoção e etc. A maior parte dos pacientes está lá ou por AVE ou por amputação, mas também tem muita esclerose múltipla, artroplastia de quadril, pneumonia, acidente de carro e etc. Além do prédio com os pacientes o hospital tem um prédio especial que foi construído há pouco tempo e que é só pra sessões de reabilitação do paciente. Lá nesse prédio ficam os fisioterapeutas, o pessoal da terapia ocupacional, fonoaudiólogos e algumas clínicas particulares dos médicos que atendem no hospital. Como o hospital era um hospital comandado por freiras também existe uma presença religiosa bem forte lá. Tem crucifixo pra tudo que é lado, e também tem a Freira que está sempre lá pra conversar com os pacientes (ela também trabalha na administração do hospital).
Janice, Dr. Luce e eu no meu último dia
Sobre a parte de reabilitação: surreal! Não sei se tem em POA algum lugar semelhante, mas o Shaver é demais. Tem um lugar gigante que tem até carro dentro pra ensinar os pacientes como entrar e sair do carro (coisa que a gente não pensa muito sobre, mas que é muito complicado pra um idoso que teve um AVC por exemplo). Tem uns aparelhos que ajudam o paciente a estabilizar o quadril pra andar, um monte de mini escadas pra treinar como subir e descer e etc. Tem também oficina de marcenaria, e todos os produtos que os pacientes fazem são vendidos e o dinheiro vai pro hospital pra ajudar nos gastos. Tem uma sala de realidade virtual, com um Wii e os pacientes usam pra recuperar equilíbrio e etc. Tem também uma piscina pra fisioterapia, mas nunca acompanhei nenhuma sessão lá. Um anexo do prédio de reabilitação é da clínica de amputados, onde trabalham juntos o médico, o fisioterapeuta e os profissionais que fazem as próteses. É muito legal o trabalho, nunca tinha acompanhado de perto esse trabalho com amputados.
Local onde a mágica acontece. O carro que eu falei está lá no fundo (Google Images).
Mais uma do local de fisioterapia (Google Images)
Sala de realidade virtual (Google Images)
Piscina pra fisioterapia (essa foto eu que tirei haha)
“Elevador” pra colocar os pacientes com dificuldade de locomoção dentro da água
Falando um pouquinho do que eu fiz durante o estágio: fui sombra hahaha. Brincadeiras a parte, a lei aqui me impede te “tocar” nos pacientes porque eu não sou médica ainda, então minha função era basicamente ser samambaia ambulante atrás dos médicos e da Janice. Tínhamos visita aos pacientes 3x por semana, onde íamos em todos os leitos dos pacientes ver como eles estavam, ver medicação e etc. Isso ocorria as 7:30 da manhã geralmente. Mais ou menos 3 vezes por semana também tínhamos os rounds com a equipe, e o legal é que todo mundo participava do round: o médico, a enfermeira, o farmacêutico,a fisioterapeuta, a fonoaudióloga, a TO e todo mundo mais envolvido com os pacientes que estavam sendo discutidos. Não sei se isso é uma prática comum aqui no Canadá, mas eu achei muito interessante e muito bom pro paciente, porque daí todo mundo fica ciente do que está acontecendo com ele, se ele está melhorando ou não, o que tem que mudar e etc. Seria legal se fosse assim no HCPA, geralmente só os médicos participam dos rounds que os acadêmicos/doutorandos participam. A regra era que eu não podia tocar no paciente nem fazer exame físico, mas com o tempo eu fui ganhando a confiança e consegui até fazer um fundo de olho (só que não tinha colírio midriático então não enxerguei bulhufas haha) e ascultar uns pulmões e corações aleatórios. Participei de algumas clínicas com outros médicos do hospital e gostei bastante. As clínicas que fui foram de Aplicação de Botox pra paciente com Esclerose Múltipla, clínica de amputados, clínica da Geriatria e clínica geral (a que mais gostei, claro, porque tinha muita coisa diferente – até paciente pedindo receita pra maconha medicinal).
Também ajudei a desenvolver um banco de dados com os dados sobre a incidência de DVT nos pacientes internados, o que deu um pouco de trabalho porque os prontuários aqui são em papel, e como os pacientes todos vinham de uma emergência (as vezes já tinham passado por mais de um hospital antes) eu gastava bastante tempo procurando as informações. No HCPA é tudo digitalizado, uma mão na roda na hora de obter esse tipo de informação.
Fui sempre MUITO bem tratada por toda a equipe lá do Shaver, todo mundo tava sempre sorrindo e perguntando se eu precisava de alguma ajuda. Algumas vezes acompanhei os profissionais de outras áreas que não a medicina, e sempre me trataram super bem. Meus chefes também sempre me perguntavam o que eu achava da conduta deles em relação a algum paciente x e perguntavam qual era minha opinião/o que eu faria, o que me deixava muito feliz (e não era perguntar só por perguntar, eles realmente me levavam a sério). No fim nem fui tão samambaia assim, aprendi MUITA coisa durante esse estágio (e meu vocabulário médico também melhorou bastante). Uma outra coisa legal que tive oportunidade de presenciar foi uma palestra que o Tom Whittaker ministrou lá no hospital. Ele foi a primeira pessoa amputada a chegar ao topo do monte Everest. A história dele é muito linda e eu chorei horrores durante a palestra (mesmo, até tirei uma foto com ele mas a foto é impublicável pelo meu estado deplorável). Acho que a palestra foi muito boa para os pacientes que foram, é uma lição de vida muito legal a dele! Ele é britânico mas ele morou no Canadá já.
Livro do Tom Whittaker, estou com muita vontade de comprar e ler 🙂 PS: sim, aquela é minha patinha linda
Tive que extrair meu siso durante o estágio (acabei minhas atividades antes por isso) e meus chefes foram super de boa com isso, até me levaram flores e cartões de recuperação (achei a coisa mais linda!)
Cartão e flores pra me desejar boa recuperação *-*
Não tenho muitas fotos porque sou muito profissional e não tiro fotos do ambiente de trabalho (tô de brinks, foi porque eu esqueci mesmo haha). Fiz o post bem explicativo pra ajudar quem me pergunta sobre o estágio e como que foi, mas qualquer outra dúvida que tenham é só perguntar nos comentários que eu respondo com o maior prazer. Minha experiência de estágio foi muito boa, só teria sido melhor se pudesse efetivamente tocar nos pacientes (exame físico é essencial, os professores estavam certos na semiologia haha). Vou tentar postar os passeios de Toronto em breve, esses terão bem mais fotos, prometo.
Pra quem quiser saber mais sobre o Shaver, esse é o site deles: http://www.hoteldieushaver.org/index.cfm
Bom resto de fim de semana 🙂